sexta-feira, 27 de julho de 2012

Ah! Se Ainda Fosse Criança.






Quisera eu, perante dias já tão passados, voltar a sonhar como outrora, sem demandas nem limites, no patamar mais puro e corajoso da alma: a inocência. Inocência para desejar, criar, obter e agradecer. Ah! se ainda fosse criança, correria pelas ruas, percorreria por toda imaginação infinita do meu eu resguardado neste mundo interior, viveria somente de letras e escreveria a síntese de todos os processos originados na alma. Se ainda fosse criança, não sofreria por mesquinharias, trabalhar seria a melhor das brincadeiras e amar a mais profunda alegria presenteada por Deus. Mas, eis-me aqui, já nesta pele de adulto, passando por transições e apelando por comiseração perante as inquietudes do existir e teorizando sobre todos os verbos e substantivos que regem o mundo. Mundo complexo, cheio de muros, países e delimitações. Mundo de gente diferente, que não aceita a diferença do existir como procedente da conquista do pensar. Mundo de ciências, teorias e determinismo, onde o decorar é primordial para o conceito do inteligente que possui inteligência. Mundo em que o armazenamento do decorar cria títulos, postos e dinheiro. Mundo estranho, diria toda infantilidade pura que já ofertou alegria e a mais profunda sensação da felicidade.









Se ainda fosse criança, tempo nenhum seria manchado por improdutividade e falas daninhas, que encaminham o homem para o rancor, a discrepância e o vazio do pensar improdutivo e errôneo. Viveria de minha criança pura, corajosa e feliz, que conquista amigos falantes, que conquista amigos risonhos e amigos que muitas vezes nem falam ou pensam, mas são companheiros de jornada. Companheiros de origem divinamente sobrenatural e real. Se ainda fosse criança pularia de alegria, correria por todo lado, sem importar com olhos alheios e opiniões sistematizadas. Agradeceria por cada alimento, ficaria feliz por cada oportunidade de ver e sentir o belo e sempre abraçaria o tempo, o mundo, as pessoas e à vida. Vida rara, vivida e eterna, que transita por vários corpos, muda seu pensar em cada caminho e alcança gradativamente a riqueza buscada por cada criatura: sabedoria. Sabedoria que alimenta à alma, mostra o sentido do tudo, do nada e de cada experiência que realidades diversas trazem, objetivando algo maior e melhor, que abandona cada ser em estradas enigmáticas; em estradas de dor, alegria e, sobretudo, de aprendizagem.








Ah! quisera essa criança ainda aqui, agora, sem medo ou receio do tudo, do nada e das verdades inacabadas e da construção difícil do eu. Eu sou, eu estou e eu tenho. Mas já me encontro em entrância intermediária, desejando objetos que nunca imaginara e buscando formas modernas da dita felicidade e catalogos de realização. Mas já fui criança, já fui adulta, sou mulher. Já visitei a paz, gritei a guerra e errei caminhos. Já acertei estradas, já vim com conquistas e tenho que conquistar mais e mais. Se ainda fosse criança, seria só criança, um sonho a mais para a humanidade e momentos eternos de genuína inocência. Se sou grande, é porque já fui pequena, se sou adulta é porque já fui criança; se realizo é porque a criança em mim foi formada de sonhos e desejos. Sonhos e desejos mutáveis, mas sempre em germinação, que me fazem construir novos olhares e agradecer por minha criação. Se ainda fosse criança, seria apenas criança, mas agora que sou fruto crescido, posso ter ainda minha criança vivendo dentro dessa maturidade, me chamando quando a realidade deseja dominar e se ocultando quando a maturidade quer indagar e conquistar o verdadeiro sentido da ação existir, viver e evoluir. Ah! que bom que já fui criança.